Quem dá mais? A incrível viagem dos leilões pelo tempo.

O leilão constitui uma prática de grande relevância histórica, presente em diferentes sociedades ao longo dos séculos. De acordo com Hélcio Kronberg, os registros mais antigos datam de aproximadamente 2.000 a.C., entre os assírios, que utilizavam esse método para comercializar pescados com o objetivo de alcançar o maior valor de venda possível.

Posteriormente, na Babilônia, por volta de 500 a.C., desenvolveram-se formas rudimentares de leilão. Nesse contexto, mulheres eram oferecidas, não havendo uma troca monetária como critério de arremate, mas sim a imposição da força física, sendo considerada vencedora a pessoa capaz de derrotar os demais concorrentes.

No Império Romano, o leilão adquiriu um papel político e econômico de destaque. Em 193 d.C., o trono imperial foi disputado entre dois homens por meio desse sistema. Além disso, como observa Celso Jaloto Avila Junior, os espólios militares eram igualmente comercializados: armas, obras de arte, gado, alimentos e até prisioneiros de guerra eram negociados em leilões conduzidos por oficiais das legiões romanas.

Com o advento da modernidade, especialmente a partir do século XVI, o leilão passou a ser institucionalizado em diversas regiões. Em Portugal, durante o reinado de D. João III (1521–1557), surgiram registros de pregões oficiais para a venda de propriedades confiscadas pela Coroa. Na França, em 1556, foi regulamentada a profissão do leiloeiro, denominada à época de “meirinhos leiloeiros”, servidores públicos encarregados da avaliação e alienação de bens por determinação judicial ou em função de sucessões.

Na Inglaterra, por sua vez, o reconhecimento linguístico da prática ocorreu em 1595, quando o Oxford English Dictionary registrou pela primeira vez a expressão “to auction”, consolidando-o no vocabulário jurídico e econômico da época.

Os leilões também fazem parte da história do brasileiro, desde os seus primórdios, no século XVII, em pleno período colonial, registros apontam que as praças públicas se transformavam em palco para transações, e muitas delas envolvendo a venda de escravos, uma realidade dura e sombria da época.

Com a chegada da Família Real, no início do século XIX, esse cenário começou a ganhar novos contornos. O fim do monopólio português abriu caminho para um comércio mais intenso, e os leilões se consolidaram como uma prática estratégica para movimentar mercadorias e dinamizar a economia local.

Aos poucos, a atividade deixou de ser apenas costume e se tornou instituição. Em 1851, o Decreto nº 858 trouxe o “Regimento para os Agentes de Leilões da Praça do Rio de Janeiro”, dando ordem e visibilidade oficial aos pregões.

Mas o grande marco veio mesmo  décadas depois: em 1932, no governo de Getúlio Vargas, o Decreto nº 21.981/32 regulamentou de vez a profissão do leiloeiro no país. Ali nascia uma categoria com normas, direitos e responsabilidades claras, reforçada no ano seguinte pelo Decreto nº 22.427/33, que aprimorou ainda mais as condições de trabalho dos profissionais.

O tempo passou, mas a tradição se reinventou. Nos anos 2000, a internet abriu uma nova era: os leilões deixaram as praças e passaram para as telas. As plataformas digitais ampliaram o alcance, conquistaram novos públicos e transformaram o que antes era local em algo global e acessível a todos. Essa é a parte que mais me encanta: oportunidade para todos! 

Hoje, do pregão colonial às plataformas online, a trajetória dos leilões no Brasil é a prova viva de como uma prática antiga pode atravessar séculos, se adaptar e continuar ainda tão relevante. 

E você, já sabia disso?



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